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"A família jamais morre!" - Ensaio Filosófico sobre a “Inseminação Artificial Post-Mortem”

Atualizado: 8 de mai. de 2021

Introdução

Ao admitirmos a ciência como objeto de estudo, mergulhamos numa infinidade de experiências "obscuras", que habitualmente fogem aos olhos da comunicação social e do prisma popular do senso comum. De entre os demais, deparamo-nos com um procedimento laboratorial de procriação medicamente assistida revolucionário denominado de “Inseminação Artificial Post-Mortem”. Este é o nosso foco de interesse por se tratar de um assunto relevante e atual, relacionado com os departamentos da ciência e da cultura, e que ergue questões éticas fundamentais, ao convergir com a tendência repulsiva à novidade que pertence à nossa natureza enquanto espécie humana.

Dr. Cappy M. Rothman

Revendo a História, muitas foram as situações que derrubaram os limites da imaginação humana, mesmo estando inseridas numa realidade que as considerava repugnantes e pecaminosas e, este caso, não é uma exceção à regra. Por definição, consiste no método sintético de inserir o sémen criopreservado, antes ou depois da data de óbito de um homem falecido, num óvulo viável da sua cônjuge, cuja fecundação do embrião poderá ser natural ou “in vitro”. Apesar de parecer uma matéria recente, esta tecnologia teve o seu primeiro caso relatado em 1980, pelo Dr. Rothman. Contudo, ocorreram sequelas de episódios similares como, por exemplo, o sucedido com Ângela Ferreira, que pretendia ter um filho com o seu marido Hugo, mas este morreu antes de garantir descendência, a 29 de março de 2019.

A autodeterminação da viúva levou a cabo uma luta contra o Parlamento Português em prol da alteração da Lei n.º 32/2006 de 26 de Julho, que regula a legalização da inseminação. Apesar da medida ter sido aprovada, agora que a discussão está em fase de especialidade, já foram apurados 10 pareceres negativos por entidades disciplinadas. A título de curiosidade, vale a pena salientar que, aquando da análise da postura de diversas nações espalhadas ao redor do globo face a esta questão, concluiu-se que é legal em Espanha, Inglaterra e no Brasil, e ilegal ou em ponderação em países como a França e a Alemanha. Revendo, por fim, este aglomerado de aspetos intrigantes, ficamos cientes das potencialidades deste tema para projeto de investigação.

Ângela Ferreira e Hugo Ferreira no início da relação

Este exercício de reflexão tem o propósito de dar a conhecer os argumentos a favor e contra que estão envolvidos no processo de legalização da técnica laboratorial, a fim de estimular a discussão bem articulada desta temática. Procuramos, também, desmistificar alguns juízos tendencialmente censórios, esclarecer dúvidas relacionadas com a definição do conceito de "família" da sociedade do século XXI e responder a perguntas importantes como: “Será que a Inseminação Artificial Post-Mortem deveria ser legalizada?”, “Tratar-se-ia de uma inevitabilidade legal ou uma lei sem fundamento ético?”, “Será justo a criança, fruto deste procedimento, nascer sem pai?”, “Terão os tempos modernos trazido um novo significado para a família e a união matrimonial?”, ou “Qual será a verdadeira definição de família?”,... Para tal efeito, apresentaremos um questionário para recolha de dados, com direito a uma exposição lógica das nossas inferências pessoais.

Parentes são os que têm laços de sangue, mas isso não quer dizer que sejam família, porque o bem estar é determinado pela qualidade das relações e nela estariam aqueles que ficam connosco no auge da tempestade. É o amor que faz uma família.


Corpo do Trabalho

Quadro de Referência Teórico

Família… Mas o que é a “família”? A sociedade atual está constantemente a ser submetida a novas situações que implicam uma revolução das metodologias aplicadas, a fim de resolver um determinado conjunto de problemas, e promover uma nova interpretação dos conceitos até então definidos. A “morte” é uma matéria que permanece quase intocável no ramo da investigação. Não existem instruções nem ferramentas concisas para essa exploração e, sendo nós criaturas vivas, somos incapazes de alcançar a luz ao fundo do túnel e retornar ao ponto inicial para analisar os resultados da nossa jornada. Contudo, somos sempre capazes de carregar os desejos dos nossos entes falecidos, como uma prova de amor. No entanto, não há emenda para tudo. Existem aqueles que morreram sem terem a oportunidade de construírem família.

Escola de Medicina Leonard M. Miller da Universidade de Miami

Felizmente, na realidade do século XXI, já estamos equipados com artilharia promissora que se encarrega de dar, aos que ficaram viúvos, a benesse de selarem os laços matrimoniais com um filho que tanto ansiavam. Eis que entra a recuperação do esperma post-mortem e a consequente inseminação artificial do mesmo. De acordo com uma notícia da Mosaic, republicada pela BBC News, no final da década de 1970, o Dr. Cappy Rothman realizou a primeira recuperação de esperma post-mortem. Antes disso, formou-se na Escola de Medicina Leonard M. Miller da Universidade de Miami, em 1969, e executou funções vitais, em Los Angeles, com a sua especialização em Endocrinologia, Diabetes, Metabolismo e Urologia.

Neste artigo, o próprio conta: “Recebi um telefonema do residente-chefe de neurocirurgia da UCLA, que me disse:‘ Tenho um pedido estranho... [Este político] gostaria de ter o esperma do seu filho, que sofreu de morte cerebral após um acidente de carro, preservado. Seria capaz de fazer isso?'" Rothman sugeriu três opções: administrar uma droga que faria o corpo todo ter convulsões e, com sorte, induzir uma ejaculação; remover os órgãos reprodutores; ou a estimulação manual. “Lembro-me de haver uma pausa ... [o neurocirurgião] disse: 'Ei, doutor, já me pediram para fazer muitas coisas como residente-chefe de neurocirurgia, mas se você acha que vou masturbar um homem morto, você está louco.'”. Eles decidiram optar pela segunda opção. “Quase parecia Michelangelo”, disse Rothman, “estar sozinho, numa sala de cirurgia, com a anatomia masculina. Foi uma educação.”.

Mais tarde, em 1999, desenrola-se um evento histórico: o primeiro nascimento resultante de uma extração post-mortem. Gaby Vernoff deu à luz o bebé Brandalynn do esperma extraído por Rothman, 30 horas após a morte de seu marido.

California Cryobank

Hoje, Rothman é co-fundador e diretor médico do California Cryobank, o maior banco de esperma dos Estados Unidos. Ele estima que a prática tenha realizado cerca de 200 extrações de esperma post-mortem. Os registos mostram apenas três extrações na década de 1980 e 15 na década de 1990. Mas de 2000 a 2014, foram realizados 130: uma média de cerca de nove por ano. A clínica de Rothman não é, de forma alguma, a única clínica que oferece este serviço. As estatísticas recentes são escassas, mas as pesquisas em centros de fertilidade dos Estados Unidos em 1997 e 2002 encontraram um número crescente de solicitações de recuperação de esperma pós-morte, embora a partir de uma base muito baixa.

Este salto na História da Humanidade, estimulado pela grande demanda desta técnica, resultou de um conjunto de esforços demorados e de um acumular de saber científico, que nos revelou factos pertinentes em relação à nossa Biologia. Ao que parece, os nossos corpos não morrem de uma vez, como uma unidade, mas sim em partes. A literatura científica antiga aconselha os profissionais de saúde a extrair e congelar uma amostra de esperma dentro de 24–36 horas após a morte, mas estudos de caso mostram que, em determinadas condições, os espermatozoides viáveis ​​podem sobreviver muito além desse prazo. Rothman conta a história de um homem que morreu a andar de caiaque em águas geladas, cujos espermatozoides estavam em boa forma dois dias depois. E em abril de 2015, médicos na Austrália anunciaram um “bebê feliz e saudável” nascido de esperma removido 48 horas após a morte do pai. Concluiu-se, então, que o esperma não precisa de ser rápido e perfeito, apenas vivo.

"Inseminação Artificial Post-Mortem"

Com o passar do tempo, os procedimentos para a recuperação dos espermatozoides foram diversificando-se e aperfeiçoando-se. Agora, existem várias maneiras de os “colher”, destacando-se: a extração com uma agulha inserida nos testículos; a separação dos espermatozoides do tecido epidídimo (tecido onde o material genético amadurece); a ejaculação por sonda retal ou eletroejaculação, em que o médico insere uma sonda condutiva no ânus do homem, em direção à próstata, e promove uma descarga elétrica, causando uma contração muscular promotora da ejaculação. Claro que, a "Inseminação Artificial Post-Mortem" não tem de passar necessariamente por estas práticas que requerem o indivíduo morto. Aliás, na maioria dos casos, os homens, portadores de doenças em fase terminal ou que se veem perante circunstâncias de iminente infertilidade, armazenam o seu sémen por criopreservação (os espermatozoides são conservados através do congelamento a temperaturas muito baixas , geralmente −196 °C) e deixam assinado um documento de autorização para possibilitar a concretização desta técnica.

Ângela e Hugo no dia em que se conhecem

Foi o que aconteceu com um caso bastante peculiar em Portugal, envolvendo Ângela e Hugo. Conheceram-se em 2017, quando ela foi modelo para um trabalho de cabeleireiro de Hugo. Nesta altura, já Hugo estaria a terminar as sessões de quimioterapia, devido a um cancro na região pélvica, que o motivou a criopreservar o seu sémen, já que haviam 99,9% de chances de ficar estéril com as mais de 60 radiografias que o tratamento estipulava. Hugo ficou curado e o amor do casal foi-se fortalecendo, a cada dia que passava. Tinham planos de casar e de ter filhos e, por isso, já estariam a organizar uma consulta de fertilização. Infelizmente, em julho de 2018, outro cancro foi detetado no esófago de Hugo que, pouco tempo depois, se agravou desastrosamente, levando a que este fosse parar ao hospital. Tendo já estimado pouco tempo de vida, em fevereiro de 2019, eles vão à consulta de fertilização e a médica prevê um possível avanço do processo dentro de 1 ano. Era lógico que Hugo não teria 1 ano de vida, então, escreve um documento onde deixa implícito a vontade que tinha em dar um filho a Ângela e a autorização à utilização do sémen após a sua morte. Outros dos desejos do apaixonado casal era casarem e como o tempo saciava quiseram agilizar o evento. A 24 de março de 2019 casaram-se num ato de última esperança, mas Hugo acabou por morrer 12h depois, a 25 de março de 2019.

Atores representam momento que Ângela descobre que Hugo tem pouco tempo de vida

Após o falecimento de Hugo, Ângela, desconsolada, pretende com toda a força prosseguir com a Inseminação Post-Mortem e, ao ser rejeitada, dá a conhecer o seu caso à comunicação social, servindo de referência para outros casais desfeitos que estejam na mesma circunstância. O seu empenho chega às notícias a 03/02/2020, quando a TVI dá a conhecer a primeira notícia sobre este caso. A TVI fez ainda uma reportagem sobre toda a situação que ocorreu. Esta procurou reconstituir o maior número possível de situações experienciadas relatando dados pormenorizados sobre como se conheceram, quando e onde. Para além disto, outros dados são revelados como é o caso de como se desenvolveram os acontecimentos, mais concretamente a relação de ambos, o cancro, o casamento e a tentativa de engravidar. Junto a esta informação, a TVI ainda recolheu relatos da mãe de Hugo, amigos e de Ângela acerca de como reagiram, como lidaram com a perda e do que se lembram de Hugo. Posteriormente, seguiram-se a SIC, a CMTV e a RTP e rapidamente o caso ficou conhecido por todo o país.

Ângela conseguiu mobilizar mais de 100 mil portugueses e juntos levaram o caso ao parlamento. O seu trabalho foi, em parte, bem conseguido uma vez que, perante o parlamento, o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP votaram para que a lei se reformulasse e o PS e o CDS-PP votaram contra a criação da cláusula que permitisse a Inseminação Post-Mortem. Com isto, em 23 de outubro de 2020 o caso é aprovado na Assembleia.

Perante a recente fase da especialidade, onde os deputados fazem afinações à lei e ouvem contributos de especialistas, várias entidades têm demonstrado posições bastante críticas, tais como o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, o Conselho para a Procriação Medicamente Assistida, a Associação Portuguesa de Fertilidade, o Conselho Superior do Ministério Público,…

Parlamento Português

A presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Rita Lobo Xavier, que foi ouvida em janeiro de 2021, afirma que a decisão da mãe pode “surgir de um luto patológico”, além de que é “impossível conhecer a vontade atual do marido na data da inseminação”, apesar de uma autorização dada em vida, e que, no limite, “uma gravidez não é uma homenagem”. A Associação Bioética refere que a atual formulação da lei está errada. Já a Universidade Católica afirma: "O homem morreu, não morreu? Morreu, pronto, já não existe esse projeto. Na linguagem jurídica, podemos dizer que esse projeto caducou, extingue-se. Portanto, o que há é uma autodeterminação da mulher". A CNPMA (Comissão Nacional da Procriação Medicamente Assistida) também se revela contra a decisão parlamentar dizendo: "Choca-me, nos dias que correm, estarmos aqui a falar do mesmo, um ano depois de sair a reportagem, que é uma criança que vai nascer sem pai, uma criança que eu estou a pôr no mundo sabendo que não vai ter pai".

A opinião científica prende-se com algumas dúvidas de constitucionalidade na perfilhação da criança como: a não distinção entre o uso de espermatozoides criopreservados e a transferência Post-Mortem de embriões; a falta de requisitos para a autorização do dador; a ausência de prazos mínimos e máximos; e a ausência de limites para o número de tentativos do uso do material genético. No entanto, a Associação Portuguesa de Bioética revela um parecer positivo, tendo em consideração as vontades do casal.

O processo deverá ser longo e ainda não há previsão para a votação final da lei, dadas as condições atípicas de pandemia. Os partidos mantêm a intenção de avançar com a legislação. Quanto à posição das grandes instituições, a informação disponível é diminuta e, uma vez que estas espelham as preocupações das populações que representam, podem surgir dúvidas relativamente ao conhecimento desta temática no lugar comum. Neste sentido, procurámos esclarecê-las atendendo a um inquérito realizado a uma amostra de 78 participantes, das mais variadas idades, culturas e estatutos sociais.



Gráfico do Inquérito Google Forms: Idade dos Participantes

Como podemos observar no gráfico anterior, esta investigação contou com 78 participantes, que se estendem entre os 15 e os 78 anos. Trata-se de uma amostra de conveniência sem pretensão de ser representativa uma vez que não se podem produzir generalizações significativas. Porém, a moda de idades situa-se nos 16 anos, sendo que também se denota uma interação frequente dos indivíduos que se situam entre os 17 e os 18 anos de idade. Assim, conseguiu-se uma leitura diacrónica do problema que não se circunscreveu a uma faixa etária, mas que se estendeu temporalmente.

Os participantes no estudo são, maioritariamente do género feminino (70,5%), seguidos pelos do género masculino (28,2%), observando-se, também, um indivíduo transexual (1,3%). Consideramos muito positivo que 71,8% dos intervenientes tenha conhecimento da técnica de “Inseminação Artificial Post-Mortem” uma vez que revela uma atenção à dimensão científica e ética que este problema/desafio atual revela perante a população mundial. De um modo ou de outro, estes resultados são um reflexo da sociedade contemporânea, amplamente caracterizada pela curiosidade no que refere à investigação científica, bem como ao modo como esta pode facilitar/transformar a leitura que os indivíduos fazem do papel da ciência na vida hodierna.

As fontes de conhecimento mais comuns são notícias e pesquisas autónomas. Regista-se, porém, que 19,2% dos inquiridos afirma desconhecer esta prática clínica. A franja de indivíduos que não mostram interesse por esta temática situa-se nos 6,4%. Este aspeto confirma os dados apresentados anteriormente e que descrevem o interesse substancial dos participantes nesta temática. Estes resultados podem ser compreendidos à luz das mudanças sociais e do progresso científico constante. A nova imagem da civilização é alicerçada nestes dois polos e no paradigma da evolução e do progresso científico que se desenvolve para que aumente o bem-estar dos indivíduos, ainda que, este progresso possa não ser consensual sob o ponto de vista ético e político.

Tendo apenas por base um texto superficial que explicava o que consistia a "Inseminação Artificial Post-Mortem”, 74,4% da amostra em estudo acredita que esta técnica devia ser legalizada, por oposição aos 12,8% que discordam. No entanto, é notável um leque diversificado de 12,8% ocupado por indivíduos que se posicionaram ambiguamente. Adiante, quando nos debruçarmos sobre este item, verificamos que houve uma mudança substancial dos cenários de resposta, tendo sido registada uma percentagem de 69,2% afirmativas, 9% negativas e 21,8% dúbias.

Esta alteração do paradigma dentro do questionário está diretamente ligada com um conjunto de exemplos apresentados, cuja função era obrigar os participantes a refletir:

  • Situação 1: Cônjuge falece devido a um cancro e deixa, no testamento, uma permissão para o aproveitamento do seu sémen.

  • Situação 2: Cônjuge falece, deixando a documentação necessária à extração, e, quando a viúva decide proceder à inseminação, esta opção é rejeitada e outras alternativas são fornecidas, relacionadas com a administração do esperma de um dador anónimo.

  • Situação 3: Cônjuge falece, deixando a documentação necessária à extração, e, quando a viúva decide proceder à inseminação, esta opção é rejeitada e outras alternativas são fornecidas, relacionadas com a administração do esperma de um desconhecido, que pode já estar morto.

Estas conjunturas hipotéticas almejavam procurar conhecer a posição dos inquiridos face ao senso de justiça e de ética dos desfechos das narrativas exibidas. Na globalidade, por entre um grupo de resoluções criativas, obtivemos dois cenários de resposta de extremos opostos e um mais centrado:

  • Justo: “Sim visto que há demasiadas crianças sem pais e que se ela decidir ter um filho sabendo que ele nunca iria conhecer o pai não seria ético” e “Eu pessoalmente concordo com a rejeição do primeiro pedido, porque não acho correto nem responsável por parte da mãe ter um filho, e este terá que viver sem nunca conhecer o pai. Segundo, acho que neste momento há opções mais corretas e éticas.”

  • Injusto: “Não, porque se havia possibilidade de realizar a inseminação pós-morte e se era o que o casal desejava não deveria haver nada que lhes impedisse. E se é autorizado uma inseminação artificial de um dador anónimo porque não do próprio marido?”

  • Consoante os Casos: “Parcialmente. Se a inseminação pos-morte nao for legal no país e os profissionais não tiverem controlo sobre a legalidade dessa ação, então acho justo eles porem essas opções na mesa, caso contrário, não acho que eles devessem proibir a realização da inseminação.” [grafia original]

Direitos Humanos

Em nosso parecer, os inquiridos numa tentativa de justificarem algumas respostas utilizam argumentos como o Direito à Vida: “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” (Artigo 3.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos) e, por isso, não podem negar a tentativa de procriar desta forma; “o direito a casar e criar família.” (Artigo 16.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos), uma vez que viola as subdivisões do direito citado.

Quebra, ainda, os Direitos das Crianças, que são: “Viver com uma família que se preocupa com elas”; “Viver num ambiente seguro e limpo”; ”Ter acesso à educação”; “Brincar e descansar”; “Escolher os seus próprios amigos”; “Dar a sua opinião e serem ouvidos”.

Não há quaisquer dados que provem que uma mãe solteira, com um filho nascido por Inseminação Post-Mortem, não consiga cumprir todos estes direitos das crianças, sem precisar de uma figura paternal masculina, tal como também não existe forma de garantir que, quando a criança é acompanhada pelos dois pais, ela será feliz e lhe serão dados todos os elementos imprescindíveis para o seu desenvolvimento holístico.

Criopreservação de Espermatozóides

Do ponto de vista científico, também procuramos justificar a razão pela qual as pessoas posicionaram-se contra a justiça do país. De acordo com pesquisas realizadas, qualquer mulher, independentemente do estado civil, pode realizar a inseminação artificial com sémen de um dador. Este poderá cedê-lo se corresponder às indicações, inclusive passar em testes médicos e psicológicos. A mulher pode recorrer a bancos de esperma de clínicas ou hospitais. Se qualquer mulher pode realizar uma inseminação, porque é que uma viúva também não há de poder? E qual seria a diferença entre o material genético de um altruísta anónimo e o do marido falecido? A diferença para as organizações e estatísticas não seria nenhuma, pois eles apenas têm de contabilizar a inseminação, o número e qual o sémen utilizado, sem necessitar de um nome. Já para a futura mãe seria completamente diferente, uma vez que, se fosse de um desconhecido, a gravidez seria causada sem amor, mas se fosse pelo seu ex-marido, ainda havia sentimentos de ternura e a realização de uma esperança.

Em contraste a estas respostas, temos também aqueles que se posicionaram contra a legalização deste procedimento inferindo causas como o “direito” das crianças em ter um pai. Psicólogos da área infantil e pedopsiquiatras relatam que crescer sem pais pode causar baixa-autoestima, transtornos na adolescência, mais inseguranças, sentimento de solidão, depressão e pode refletir-se em pouco desempenho académico ou dependência de drogas. Estas crianças, muitas delas, sofrem ainda falta de identidade e chegam a recorrer a hábitos de vida violentos e até criminosos.

Não se pode deixar de relatar que, hoje em dia, cada vez é mais comum uma criança crescer sem pai ou mãe e que há casos felizes e bem-sucedidos de famílias monoparentais. Todavia, relatórios médicos e estatísticas denotam que uma criança/adolescente é bem mais sucedida e feliz do que aquelas que não tem a alegria de conviver com uma figura paternal.

Mulher Grávida

Para além disso, reparámos que, quando uma mulher decide prosseguir com a procriação pelos processos sintéticos, não é qualquer sémen que é “aceite” pelo organismo feminino. No banco de esperma, inúmeros testes de compatibilidade são realizados antes da inseminação como, por exemplo, as características físicas e o grupo de sangue e só então o sémen pode ser descongelado. A amostra ainda passa por processos de preparação ou capacitação, técnica essa que vai eliminar espermatozoides inviáveis, mortos ou com pouca mobilidade, restando apenas os mais aptos para a ocorrência da fecundação. Com esta situação, não há garantias que o sémen do falecido seja apropriado para o organismo da mulher que pretende ter um filho. Sendo assim, não é segura a inseminação de um sémen apenas porque a mulher deseja ter um filho com aquele indivíduo. Há um conjunto de fatores que se deve ter sempre em consideração.

Outro dos nossos objetivos com este projeto era ver até que ponto, determinado tipo de conjuntos de pessoas relacionadas, representadas por imagens, podiam ser consideradas como família:

  • Imagem 1: Uma família composta por um homem, uma mulher e dois filhos de géneros opostos.,

  • Imagem 2: Uma família composta por dois homens e um filho.

  • Imagem 3: Uma família composta por uma mãe solteira e um filho.

  • Imagem 4: Uma família composta por dois avós e uma criança.

Famílias

De uma maneira geral, houve um conjunto de respostas uniformes (“Feliz” e “normal"), com exceção de casos invulgares que descreveram os modelos usando as seguintes expressões: “Acho super incorreto um casal gay ter um filho. Não é homofobia mas acho incorreto haver um criança a crescer sem mãe, nenhum dos homens não consegue nem deve tentar imitar a imagem e a posição que uma mãe tem.”, “incompleta”, “Comum na sociedade atual mas triste” e “Reconstituída”

A nosso ver, as respostas abordam de uma maneira normal as diferentes perspetivas de família porque, hoje em dia, existem muitos tipos e não é por essa razão que deixam de ser felizes. Além disso, não é necessário uma figura paternal apenas pessoas que se preocupem connosco e podem ser mães, pais, avós, tios, pais adotivos, amigos, ou outras figuras. Estas respostas iluminam as diferentes representações que a sociedade constrói da família. Representações estas que são configuradas pelos valores e pela cultura de pertença, mas também pelo modo como os cidadãos vivem a vida, o que leem e o que investigam, a sua abertura ao mundo e as lentes com que olham para o mesmo mundo. Estamos longe de ter um modelo perfeito que conduza a famílias perfeitas que criam e educam crianças perfeitas.

Os estudos desenvolvidos revelam que uma família monoparental também consegue educar crianças felizes. Por outro lado, levanta-se o problema da dimensão ética e legal de práticas que ainda não estão completamente assimiladas pelas normas sociais e que, por isso, são difíceis de absorver pelos cidadão. O modelo judaico-cristão ainda tão forte nos países ocidentais não facilita a abertura a novas possibilidades de famílias e, com isto impede a realização pessoal dos indivíduos que, também, passa pela paternidade/maternidade. A ética colide frequentemente com a evolução científica e tecnológica e os valores demoram mais tempo a ser substituídos do que a ciência a introduzir novas metodologias clínicas. Resta pois, a consciencialização e o debate aberto para contribuir para que a triangulação entre a ética, a ciência e a política possam encontrar um ponto de equilíbrio e descobrir o caminho que torna possível o desenvolvimento e o progresso social.



Considerações Finais

Recapitulando, a Inseminação Artificial Post-Mortem consiste no método laboratorial de inserir o sémen criopreservado de um homem falecido num óvulo viável da sua cônjuge, mediante uma autorização. A fim de recolhermos opiniões relativas a esta matéria, aplicámos um inquérito em que também elencámos um conjunto de argumentos clássicos que esta temática aventa.

"Inseminação Artificial Post-Mortem"

Seguindo a execução de atividades parcelares, que foram implementadas no decorrer deste ensaio, conseguimos atingir todas as metas que nos propusemos a conquistar. Com o auxílio da pesquisa, o grupo aventurou-se pelas origens desta mecânica e dos seus precursores, assimilou as diversas revoluções que esta sofreu, aproximou-se de um caso particular (Ângela e Hugo) e explorou a ótica das entidades portuguesas. A arma secreta desta investigação foi o nosso complexo questionário, pois permitiu-nos: alcançar curiosas ilações, expressas no corpo do trabalho; popularizar ou, pelo menos, dar a conhecer este fenómeno da realidade moderna; e, por fim, promover a abertura deste tema a possíveis futuras discussões, servindo não só como base de dados, mas também como um vestígio de uma determinada época e região.

Reflexão (Considerações Finais)

Este trabalho é uma mais-valia para o leitor porque, além de alargar o seu leque de conhecimentos, para que possa tomar decisões mais conscientes, elevando-o a um novo grau de crescimento pessoal, dá-lhe a oportunidade de ponderar este cenário, perante as perspetivas antagónicas que o rodeiam, e de considerar a sua aplicação na sua vida. Não só isso, mas este exercício também se destaca pela organização e planificação prévias, a qualidade de vocabulário diversificado e elucidativo, e pelas fontes fidedignas recorridas, às quais foram anexados os endereços eletrónicos (links). Se tivéssemos de definir qual o elemento mais importante, provavelmente, diríamos a definição contemporânea de “família”, que não se prende exclusivamente com os parentes de sangue, mas sim com aqueles que cuidam e gostam verdadeiramente de nós, independentemente da circunstância. No entanto, nem todo este processo se revelou um “mar de rosas”, uma vez que sentimos algumas limitações e obstáculos na sua consecução, tais como: a dependência de instrumentos tecnológicos pouco intuitivos e sem grandes opções de formatação, em que podíamos ter sugerido outras plataformas à turma; a dificuldade na redução da informação consultada; os constrangimentos temporais, por parte do grupo, que nos impediu de explorar aprofundadamente outras áreas do nosso interesse (plano jurídico, situação mundial); e a possibilidade do conteúdo estar sujeito a lapsos resultantes das más interpretações, onde poderíamos ter acrescentado alguns revisores.

Refletimos que, de uma maneira geral, o balanço é bastante positivo, uma vez que este desafio dinâmico e singular contribuiu para o desenvolvimento individual e para a solidificação da nossa parceria profissional e dos nossos laços de amizade. Ambas as nossas metodologias de trabalho sofreram alguns ajustes, sendo que, por um lado, a Carolina adquiriu uma linguagem mais completa e compreendeu as vantagens de iniciar este estilo de tarefas com uma planificação bem regulamentada, e, por outro, o Daniel aprendeu a assumir uma atitude mais prática (sem se perder em detalhes) e mais produtiva, devido aos horários agendados entre os dois ao final do dia. Concluímos, então, que a maior parte do sucesso deste projeto se deve à companhia agradável.

Ohana quer dizer família e na família ninguém é deixado para trás ou é esquecido.” (“Lilo e Stitch”, Walt Disney Pictures, versão portuguesa de 2002)

Cena de "Lilo e Stitch"


Trabalho realizado por:

Carolina Rodrigues Nº4

Daniel Gonçalves Nº7

11ºCT3

19/02/2021








Bibliografia:

Mencionados Anteriormente:

Utilizados na Recolha da Informação (Adicionais):


Feedback qualitativo:

Introdução: *****

QRT + resultados: *****

Considerações Finais: *****(+)


 
 
 

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Turma 11CT3
Turma 11CT3
09 jun 2021

Carolina e Daniel: Tema interessante e original; Texto correto, com argumentos e um escrita consistente evidenciando-se, ocasionalmente, frases que poderiam ser mais curtas e que, assim, poderiam facilitar a leitura; Apresenta imagens com legenda e enquadradas no tema; Os exemplos são elucidativos e ilustram o tema; Não obstante a ética estar presente no ensaio, este (ou outro tema) da área específica da filosofia deveriam ter sido mais explorados. Não podemos esquecer que se trata de um ensaio filosófico e não de um ensaio científico ou social. [Carlos Gaspar]

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