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O altruísmo é anti-natura.

Atualizado: 13 de jun. de 2021

1. Introdução

Neste trabalho vou debruçar-me sobre o conceito de altruísmo e analisar até que ponto é possível que ações do ser humano sejam verdadeiramente desinteressadas e visando, apenas, o bem alheio. O altruísmo é uma característica humana socialmente valorizada. Observamos, com alguma frequência que há pessoas que perante situações de grande sofrimento ou necessidade de outros, resolvem atuar para ajudar quem passa por momentos de maior vulnerabilidade. Serão estas iniciativas apenas realizadas com o objetivo único de ajudar o próximo? Será possível ajudar o outro sem nenhuma intenção, consciente ou inconsciente, de proveito próprio?


O meu objetivo neste ensaio filosófico, consiste em discutir o conceito de altruísmo, enquadrar o seu grau de dominância na sociedade portuguesa atual, e explicar porque considero que não é fácil (será impossível?) termos uma ação intrinsecamente altruísta, intrinsecamente movida pela bondade pura. Para analisar esta questão e explicar a minha tese, vou apresentar argumentos tendo por base a literatura disponível, bem como a observação do comportamento humano em situações de “normalidade”. Abordarei também o comportamento de outros seres vivos e como pode inclusive ter sido a seleção natural a criar o impulso de ajudarmos os outros atendendo que isso pode ser benéfico para o indivíduo, para a espécie e para o ecossistema.


Optei por este tema porque me entusiasma raciocinar sobre questões que, sendo dadas como adquiridas ou mesmo consideradas óbvias para a maioria das pessoas, podem revelar-se como desafios e/ou ilusões que merecem uma análise cuidada. Tendo-me sido proposto abordar um tema que me causasse incómodo, optei por escolher este pois quando converso com outros sobre a questão, noto em geral, uma grande dificuldade em entenderem o meu ponto de vista




2. Quadro de referência teórico


A palavra altruísmo foi criada com o intuito de caracterizar uma atitude amor ao próximo. É um conceito que se opõe ao egoísmo. Uma ação altruísta é aquela de ajudar o outro sem o objetivo de receber algo em troca.

Uma das ideias fundamentais desenvolvidas na ética deontológica de Immanuel Kant é que, na avaliação moral das ações, interessa sobretudo determinar a intenção daquele que age. O que nos motiva a agir é, para a ética kantiana, o problema decisivo. Se ajudarmos alguém apenas para cumprir o dever por dever, sem qualquer tipo de segunda intenção, estamos a realizar uma boa ação, uma ação movida pelo altruísmo. A ética de Kant é desinteressada e universal. Não segrega nem coloca numa situação privilegiada uns indivíduos em detrimento de outros. Age apenas de acordo com a boa vontade. Esta é cega e não tolera que uns sejam sacrificados em função do bem-estar de outros.

Na sociedade portuguesa, a ética é fortemente influenciada pela religião. Aspeto que abrange os países (e continentes) mais antigos e onde a tradição história e social é muito vincada e conservadora. Esta junta um critério ainda mais exigente para que uma ação seja considerada altruísta: que seja discreta de forma a não haver benefício social. E onde a visibilidade de quem dá seja discreta. A ação deve privilegiar algum secretismo do agente. Lê-se, inclusive, nos Evangelhos “(...) que não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita. Isto não exclui no entanto o benefício pessoal. Mesmo para a religião católica o altruísmo tem uma compensação- o reconhecimento divino. De alguma forma, Kant tem um perspetiva mais “pura”, pois o indivíduo não deve esperar nenhum tipo de reconhecimento. Quando a ação se torna retroativa, isto é, quando o agente doador recebe algo em troca, a ação deixa de ser pura e passa a ser suspeita. uma ação pura envolve uma vontade pura de um agente desinteressado. Que pratica a ação apenas por respeito pela lei moral e sem interesses acessórios que contaminariam a pureza da intenção do agente.


Independentemente do que eu penso acerca da origem do altruísmo, é verdade que as ações altruístas contribuem para a construção de uma sociedade mais pacífica, socialmente justa e preparada para acolher as diferenças. Quanto mais se estimula as pessoas a pensarem com altruísmo, mais se está a fazer o melhor para o atendimento das necessidades do todo. O altruísmo gera felicidade pessoal para o indivíduo altruísta e para quem foi ajudado, dessa forma, incentiva a continuar a tomar atitudes deste cariz. O senso comum afirma que “o bem atrai o bem”, mas também diz, em sentido oposto, que "uma mão lava a outra". Uma sociedade altruísta é uma sociedade que reflete sobre a desigualdade social; uma pessoa altruísta é uma pessoa com capacidade de empatia pelos outros. O ser humano deve ter como objetivo a coesão social, deve tomar decisões coerentes para o todo e não somente para si mesmo. O que pretendo dizer com isto, é que não sou de todo contra o conceito do altruísmo ou defendo que não se deva praticá-lo- Apenas pretendo refletir sobre a essência da atitude altruísta, contestando inclusive a definição de Kant.


Tese adoptada: Entendo que não se pode considerar que existe um altruísmo puro, que é possível ao ser humano realizar ações pelo bem dos outros de forma independente do seu proveito próprio.


3. Fundamentação teórica


Vou começar pelos argumentos a favor da minha tese. O primeiro é que a Natureza favorece o altruísmo quando este é útil. Pensemos no exemplo das formigas africanas: estes animais resgatam os feridos após expedições de caça -limpam os ferimentos e carregam-nos para casa. As formigas não têm capacidade de raciocínio para chegar à conclusão que os feridos podem ser úteis no futuro. Se elas o fazem, é porque a seleção natural forja esse tipo de comportamento.

Por outro lado, há espécies que não vivem em comunidade que não demonstram comportamentos altruístas, como por exemplo, os répteis. A sua necessidade de sobrevivência aproveitando todos as oportunidades, não se compadece com a empatia. Esta só é uma vantagem quando a inter-ajuda é possível ou mesmo essencial. Podemos até dizer que para estas espécies o altruísmo é uma desvantagem, porque demonstrações de empatia podem comprometer por exemplo a sua alimentação, pondo em perigo a sua sobrevivência.

O que a seleção natural seleciona são os genes que dão vantagem a uma determinada espécie. Qualquer comportamento altruísta é vantajoso a espécies sociais. O altruísmo intra-espécie não só torna essa espécie mais forte como favorece a coesão social. O mesmo se aplica ao altruísmo inter-espécies, que favorece globalmente o ecossistema. Mas nas espécies solitárias o altruísmo não demonstra nenhum benefício. Fica claro que o altruísmo está presente numa espécie apenas quando lhe é favorável.

O segundo argumento é o sentimento de satisfação que acompanha a prática do altruísmo. Enquanto que na Natureza o comportamento altruísta está “programado” nas mentes dos animais, o ser humano, como ser mais complexo, precisa de outro motor para praticar o altruísmo. Para que uma sociedade seja composta de agentes morais é necessário que as pessoas sintam prazer em realizar ações que visem o bem estar alheio. O motor da ação altruísta é a gratificação por realizar a ação. Poderia-se objectar que por vezes a ação altruísta é realizada apesar de algum desconforto que o sujeito possa ter. Por exemplo: uma pessoa que saia num dia de chuva para ir ajudar um amigo, apesar do desprazer de se molhar todo. Isso é verdade, mas não afeta o meu argumento. O prazer em promover o bem estar do amigo e o desprazer que a ação causa não são incompatíveis.

O prazer ser o motor da ação não implica que o indivíduo tenha consciência desse facto. Se alguém perguntasse ao indivíduo do exemplo acima o motivo de ele ter realizado a ação, provavelmente obteria uma resposta como: “O meu amigo precisava de ajuda” e não “Porque eu me sentiria bem com isso”. No entanto, ter como motor da ação o prazer em realizá-la implica que a o motor é, de certa forma, o bem estar pessoal. Os sentimentos de satisfação e alegria que acompanham a ação deixam a vontade de voltar a realizar este tipo de ações para ter de novo estas sensações.

A contestação que mais ouço em relação à minha perspetiva, é que mesmo que a ação traga proveito para o indivíduo que a realiza, se a motivação dessa ação for o bem do outro, ainda pode ser considerada altruísta, já que foi realizada sem se esperar nenhum tipo de compensação. Por mais que, no final de contas, seja uma vantagem adaptativa e um benefício para os membros da espécie, disso não se segue a inexistência do altruísmo.

Na verdade, qualquer ação “altruísta” tem um benefício óbvio: a satisfação de quem a pratica. Inclusive, não realizar uma ação que vimos como altruísta leva a que façamos apreciações negativas de nós mesmos- que não fomos capazes de nos preocupar com outros, que fomos egoístas. Este tipo de auto-apreciação gera um sentimento de muita culpa que procuramos evitar ou compensar e que obriga a um comportamento altruísta.


4. Considerações Finais


Este ensaio teve como objetivo pensar acerca da verdadeira essência do altruísmo, e se seria possível ao ser humano praticar ações desinteressadas, que visem apenas o bem alheio. Após a análise cuidada de todos os argumentos a favor e contra, cheguei a uma conclusão: não é possível ao ser humano praticar o altruísmo puro.

Ao longo da existência da espécie humana, em várias situações os indivíduos que demostravam atitudes altruístas eram mais bem sucedidos que indivíduos egoístas. O efeito colateral disso é que hoje sentimos vontade de ajudar outras pessoas, mesmo que não as conheçamos, nem sendo garantido que elas possam devolver o favor um dia. Além de que não praticar atos altruístas gera culpa, isto impulsiona o "altruísmo". O mundo mudou, o DNA ainda não.

Dito isto, por mais que no final das contas seja a vantagem adaptativa e, portanto, um benefício próprio que nos faça ser altruístas, como espécie precisamos do altruísmo (no sentido superficial da palavra). Este é a chave para a felicidade e para uma sociedade próspera.

O maior ponto fraco na realização deste ensaio, foi ter tido dificuldade em cumprir os prazos de entrega, não gerindo o tempo da melhor forma. Apesar disso, fiquei satisfeita com o resultado final. Considero que este ensaio tenha sido maioritariamente benéfico para o meu desenvolvimento pessoal. Ajudou-me a trabalhar a minha capacidade de produção escrita e de reflexão. Principalmente, permitiu-me refletir sobre um tema que me causava incômodo. Passar as minhas ideias para o papel foi importante para alcançar uma maior maturidade na apresentação dos argumentos e aceitação sobre o assunto.


“Que é o altruísmo senão o individualismo coletivo dos fracos que descobrem que, se todos velarem uns pelos outros, cada um será conservado por mais tempo?” Friedrich Nietzsche

Apesar de esta ser uma frase perigosa, por ser uma crítica à solidariedade e à coesão social, sublinha uma consciência do favorecimento do altruísmo como mecanismo de autopreservação.



Inês Ravara nº17 11ºCT3



Considerações Finais: ****


 
 
 

1 Comment


Turma 11CT3
Turma 11CT3
Jun 08, 2021

Maria Inês Ravara: Não cumpriu, em tempo útil, as diferentes fases do projeto; Escrita adequada ao problema; desenvolve o trabalho de forma parcial, sendo que o tema não é explorado na sua totalidade; Assume uma posição inicial no ensaio; Faz uma contextualização filosófica do tema que poderia ir para além da perspetiva kantianna sobre o assunto; O QRT é, por isso, insuficiente; Faz citações sem indicar o autor da frase citada; Recorre a imagens mas estas não têm legenda nem é indicada a fonte; Os argumentos a favor da tese estão bem formalizados e são consistentes com a tese; Não respeita d modo integral as orientações que foram dadas para a realização das considerações finais. CArlos GAspar

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