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Fake News e o Poder dos Media

Atualizado: 26 de abr. de 2021

Até que ponto devemos acreditar em tudo o que vemos nos meios de comunicação? Deveriam ser tomadas medidas face aos proliferadores de Fake News?


Introdução

Fake News são notícias falsas, informações incorretas e mentiras distribuídas, muitas vezes de forma deliberada, pelos Media. Esta proliferação pode decorrer via televisão, rádio, jornais e até online, onde se tem observado recentemente um grande afluxo das mesmas, especialmente nas redes sociais.

Ao longo deste ensaio, vou abordar tanto a temática das Fake News como o Poder que os Media detêm sobre a nossa sociedade e sobre o modo como vemos o mundo. Decidi escolher este tema porque é muito atual, está a ocorrer com cada vez mais frequência e é, sinceramente, preocupante. Aflige-me saber que muitas das notícias que oiço e vejo não são (ou poderão não ser) verdadeiras e que, talvez, por essa mesma razão, a minha visão do mundo seja distorcida e não corresponda à realidade. Ao desenvolver estes temas considero importante entender o porquê dos Media espalharem notícias enganosas, as consequências de tais atos no indivíduo e na dinâmica da nossa sociedade, atitudes a ser tomadas face a este comportamento e medidas de prevenção e sensibilização contra as mesmas.

As Fake News são, muitas vezes, espalhadas com o objetivo de ganhar espetadores/ leitores/ ouvintes/ seguidores, aliciando-os com notícias puramente sensacionalistas e que espicaçam a curiosidade do interlocutor. Através desta estratégia, os Media conseguem publicidade digital.

Contudo, creio que algumas Fake News também são divulgadas de forma não deliberada, apenas estimuladas pela ânsia dos Media de serem os primeiros a reportar as notícias e acontecimentos que se passam no Mundo.

Inicialmente, as Fake News foram utilizadas como ferramenta política, ter-se-á começado a ouvir com mais frequência este termo aquando da eleição para a presidência dos EUA em 2016. O candidato que acabou por sair vencedor, Donald Trump, recorreu mais do que uma vez, às redes sociais (como o Twitter) para criar boatos e notícias duvidosas, com o objetivo de prejudicar os seus inimigos e adversário(a)s, como Hillary Clinton. Quando personalidades com esta exposição e poder disseminam intrigas, estas adquirem grande escala e chegam a alcançar milhões de usuários.

É importante entender que nem sempre os Media são os disseminadores de Fake News, por vezes são lobbys muito poderosos que se servem da comunicação social como veículo para espalharem notícias falsas, com o objetivo de influenciar a opinião pública conforme os seus intentos.

Considero pertinente procurar averiguar, filosoficamente, se devemos punir os disseminadores de Fake News (têm legitimidade e liberdade para o fazer?) e todos aqueles que não procuram averiguar a veracidade das suas fontes. Ao elaborar este ensaio, tenho como objetivo teórico determinar o impacto das Fake News na atualidade e um objetivo prático que se prende com o modo como as pessoas reagem ao descobrirem que foram enganadas pelas mesmas. Fake News são as armas através das quais minorias influentes em coadjuvação com os Media controlam as

massas.


Quadro de Referência Teórico

As Fake News, além de informações incorretas, são um exercício de poder e controlo que visam a obtenção de proveito próprio. As notícias enganadoras são uma engenhosa ferramenta para influenciar a opinião pública e “moldar” as mentes da população no sentido de as fazer acreditar em alguma informação dissimulada, simplesmente porque convém.

Contrariamente ao que se possa pensar, as Fake News surgiram bastante antes do aparecimento da Internet e das Redes Sociais. Ainda na Grécia Antiga, a “construção de outras realidades” era uma constante. Também no século XIX, há registo da elaboração de múltiplas notícias falsas para difamar candidatos adversários ao Papado; na época da Reforma Protestante, cristãos e luteranos recorreram a versos satíricos falaciosos para fazer escárnio, para enfraquecer a posição de adversários e para ridicularizarem a sua índole e ou o seu carácter.

Referente a um passado mais próximo, acontecimentos como a guerra de Cuba (1898), a guerra do Vietname (1955-1975) e a invasão do Iraque (de 2003) foram, segundo muitos, despoletadas por manipulação de jornais, pelo incidente do golfo de Tonkin (em que houve uma falha de comunicação e foi asseverada a ocorrência de um evento que nunca se chegou a comprovar) e pelas supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein, respetivamente. Segundo o repórter Manuel Leguineche, no seu ensaio sobre o nascimento do jornalismo sensacionalista, Yo Pondré la Guerra: “A guerra contra a Espanha [em 1898] foi obra de Hearst e de Pulitzer” – ambos rivais e imiscuídos na classe dos Media e no mundo da comunicação.

Hearst foi um editor de um jornal americano “New York Journal”que construiu a maior rede de jornais do país e cujos métodos – sensacionalistas - influenciaram profundamente o jornalismo .

Pulitzer foi, à semelhança de Hearst, um editor de um jornal americano (mais tarde chegou a comprar mais jornais e englobá-los no seu), contribuindo para o estabelecimento do padrão do jornal moderno. Na sua época, ele foi um dos jornalistas mais poderosos dos Estados Unidos .

Pulitzer e Hearst, através da sua rivalidade, criaram um movimento denominado “Jornal Amarelo”, caracterizado pelo uso de recursos sinistros e notícias sensacionalistas na edição de jornais para atrair leitores e aumentar a circulação. Em 1920, este tipo de jornalismo ficou mais subtil, tendo-se alastrado para meios de comunicação como a Televisão e a Internet, onde estes métodos se tornaram comuns.

Na atualidade, as Fake News foram-nos servidas com tanta abundância como num banquete: aquando do Brexit e em torno de personalidades como Vladimir Putin e Donald Trump.

Vladimir Putin teve um papel importante na disseminação de informações falsas, principalmente, nos EUA, como parte do seu esforço para desacreditar o Oriente e destruir internamente os seus inimigos. Esta sua disseminação de desinformação contribuiu para minar o plano de vacinação e fazer muita gente desacreditar no poder das vacinas, por exemplo, contra a doença Covid-19.

Trump, por sua vez, recorreu inúmeras vezes a Redes Sociais como o Twitter e utilizou o seu poder e influência para manipulação de meios de comunicação - como a televisão e jornais - durante: a sua eleição em 2016 com o intuito de desacreditar Hillary Clinton e outros possíveis adversários; durante o Brexit, para difamar Theresa May (militante de ideias e planos contraditórios aos seus) e em pleno cenário pandémico ao desacreditar a seriedade e gravidade da doença SARS-Cov-2, abordando supostas “curas milagrosas” que publicitou.

Contudo, não é necessário ampliarmos as Fake News à escala global para as analisarmos. No início de Março deste ano, em pleno segundo confinamento devido à Covid-19, circulou pela internet um despacho, aparentemente da República Portuguesa (como ostentava a insígnia no documento) em que estava patente o plano de desconfinamento. Este documento gerou discórdia devido a incoerências, injustiças e uma deficiente priorização dos serviços essenciais. Poucas horas depois do “caos” estar instalado, veio-se a saber que o documento em questão era falso e que o Governo só planeava publicar as medidas na semana seguinte. Resta a pergunta: a quem esta notícia beneficiava? Bem, a oposição, decerto que ficaria rejubilante por observar tal descontentamento da população face ao atual Governo. O que, atenção, não quer dizer que tenha sido a oposição a responsável por tal vil ato mas é imperativo que, sempre que nos debrucemos com alguma notícia, principalmente uma que terá impacto na nossa vida, tenhamos em atenção se a fonte é fidedigna e a quem a publicação da notícia poderá ser útil.

Posto isto, sinto-me segura em afirmar que a disseminação de Fake News propicia a existência de duas realidades: a verdade dos factos e a mentira ou a verdade adulterada. É importante compreender que estes dois mundos não são obrigatoriamente antagónicos, visto que, as notícias falsas tanto podem veicular acontecimentos completamente diferentes dos reais como podem transmitir notícias com mentiras pequenas e sub-reptícias.

Falta compreender: O que é a mentira? E em sua oposição, o que é a verdade? Podemos garantir a sua existência? A mentira é a manipulação, a distorção da verdade; este nefasto hábito é tão antigo como a própria Humanidade e sempre andou de braço dado com a ação humana. As mentiras podem “carregar” associadas a si mais ou menos consequências e podem ser mais ou menos credíveis, sendo que, uma “boa” mentira é aquela que tem por base a verdade. Escusado será dizer quão perigosas estas se afiguram, principalmente devido às suas propriedades que as tornam quase indistinguíveis e, por isso, se forem aplicadas a grandes escalas podem ser, honestamente, perigosas.

E a verdade? Há milénios atrás Pôncio Pilatos questiona Jesus: “O que é a verdade?” (João 18:23). Jesus não responde. A verdade é um conceito quase intrínseco à filosofia, fugidio na metafísica e mutante nas ciências – uma nova descoberta científica é capaz de romper com as costuras de um antigo paradigma. Não obstante, a verdade no nosso dia-a-dia, é entendida como tudo o que corresponde à verdade dos factos. O que não se encaixar neste parâmetros é considerado mentira. Pessoalmente, concordo com esta prática pois não acredito no conceito de meias-verdades, algo não pode ser verdade e mentira ao menos tempo, é um oxímoro. A existência de uma destas componentes anula por completo a possibilidade da existência do outro.

Baseando-me na teoria do professor Leandro Karnal, sei que até hoje, não foi possível comprovar a existência de uma verdade suprema (e provavelmente nunca será), contudo existem verdades melhores. Ou seja, versões da realidade que foram construídas através da negação do seu oposto, através de uma extensa variedade de fontes e da busca da informação desprovida de interesses privados que deturpam a busca da verdade. Verdade é, certamente, um conceito inatingível pelo ser humano mas que deve ser o foco e o objetivo último da Humanidade e de todo aquele que fabrica uma notícia, todo aquele que transmite uma informação.


Tese; sua fundamentação e argumentação

Tese: Eu acredito que os Media têm uma forte influência na nossa sociedade, sendo que, os proliferadores de Fake News deviam ser punidos.

Várias componentes dos Media


Os Media são um poderoso e eficiente veículo de informação. É observável que as notícias que nos são diariamente transmitidas são, na maior parte dos casos, aceites pela população como verdadeiras e fidedignas sem sequer serem levantadas questões em relação à sua veracidade, autenticidade e exactidão.

Mas e se as notícias forem falsas? Imprecisas? É aqui que chegamos ao cerne da questão: Será que sabemos identificar uma Fake News? Será que seremos capaz de detetar estas anomalias? E, se pensarmos de forma consciente, sabemos que a inquietante verdade é que, muito provavelmente, NÃO. Isto porque algumas das notícias que nos são transmitidas referem-se a cantos do mundo que não estão ao nosso alcance, a realidades físicas que não se encontram perto de nós e que só conhecemos pelo que nos é transmitido pelos Media. Por exemplo, se alguém nos disser que há uma tribo africana a viver nos recônditos da floresta que tem uma coloração de pele escurecida e manchada de modo a confundir-se com a natureza (à semelhança de certos animais), nós não temos meios, argumentos ou provas que o neguem.




Este exemplo levanta dúvidas em relação à sua estranheza mas, muitas vezes, ouvimos notícias, que tomamos como verdadeiras por serem verosímeis, quando na realidade são falsas. Resultado: a maior parte de nós pode ter a sua visão de certas partes do mundo e de certas realidades distorcida porque nunca contactou com elas diretamente, apenas indiretamente pela informação disseminada pelos Media. Na minha perspetiva os proliferadores de Fake News deviam ser punidos.

Atualmente em Portugal, a Polícia Judiciária, devido a limitações e incongruências da nossa Constituição, não está autorizada a agir face e a punir disseminadores de Fake News, apenas pode investigar esta prática odiosa via crimes associados. Para mim isto é uma grande falha e deve ser rapidamente feita uma atualização da Constituição Portuguesa, não só por este tópico mas por muitos outros que, infelizmente, ainda não são contemplados pela mesma. Já no Brasil, tal crime pode ser punido com até 3 anos de prisão. Principalmente numa sociedade que se apoia cada vez mais em meios de comunicação como as redes sociais para ver o mundo e elaborar as suas ideias e os seus juízos de valor, é extremamente perigoso existirem pessoas que espalham boatos e informações incorretas sem as identificarem como tal, ludibriando os seus seguidores e, pior, ao saírem impunes com tudo isto. Atualmente, a situação referente às Fake News é mais comentada e observada no ramo da política, sendo uma estratégia (do meu ponto de vista, moralmente errada) de ganhar vantagem face a algum adversário, almejando certo cargo, a vitória em certa eleição ou apenas proveito próprio (frequentemente monetário).

Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 19 – “Todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.” Ou seja, todos os seres humanos tem o direito de dizerem o que pensam, de se expressarem e de transmitirem notícias, correspondam estas ou não aos factos.

Imagem caricatural da falta de liberdade de expressão


Uma outra questão que se coloca é: o que é a verdade? A verdade é um conceito subjetivo que varia de pessoa para pessoa e quer, queiramos ou não, tolda a nossa mente. Funciona com um filtro para a realidade. Os jornalistas na sua profissão devem procurar ter filtros os mais subtis possíveis para se aproximarem da imparcialidade. Mas podemos culpá-los se os filtros deles pintarem o mundo de matizes sombrias? Podemos culpá-los se a visão deles for diferente da nossa? As vivências e o ambiente que nos rodeia são o fruto dos nossos juízos de valor face ao mundo. Portanto, a liberdade de expressão existe com esse mesmo objetivo: empoderar as pessoas no sentido de estas se sentirem livres e seguras na expressão da sua visão do factos.

Por outro lado, os disseminadores de Fake News deviam ser punidos porque a população tem o direito de saber a verdade ou pelo menos a verdade dos factos. Se tal situação não se verificar, as taxas de desinformação da população vão ser cada vez mais altas…conduzindo a instauração de uma clima de insegurança, desconforto e desconfiança de tudo o que vêem ou lêem. As pessoas não deviam ter de se questionar sobre a veracidade do que vêem nas notícias. Os Media têm a obrigação de ser conscienciosos acerca do que publicam e os lobbys poderosos e influentes devem ter percepção de que o que para eles pode ser um jogo de marionetas para os demais pode mudar uma vida.

Metáfora figurada pelas mãos dos poderosos que controlam o povo, como se este fosse uma marioneta


Em virtude do alheamento de certas franjas da sociedade, os Media podem afigurar-se (quase) como a sua única ligação ao mundo exterior, sendo responsáveis por transmitir notícias relacionadas com saúde, segurança pública, economia nacional, processos eleitorais e muitos outros assuntos sérios que dizem respeito ao funcionamento de um país. Se tais dados forem fornecidos com imprecisões podem gerar atritos, acarretando problemas sócio-políticos e sinceramente desacreditando os meios de comunicação.

Nesta sequência, o termo "pós-verdade" surgiu. Esta designação retrata o contexto ou o conjunto de circunstâncias em que é atribuída grande importância, predominantemente a nível político, social e jornalístico, a notícias falsas ou a versões verosímeis da realidade dos factos, apelando-se às emoções e crenças do indíviduo expectador. Os factos apurados objetivamente não têm lugar na realidade que concerne a esta expressão. A estas informações falsas é, por vezes, atribuída mais importância do que às informações "reais", devido a sua divulgação repetida e o modo como é apresentada.

Algumas alternativas para combater o engano da população pelas Fake News podem ser: instruir a população no sentido de adotar um olhar mais crítico face às notícias que nos são comunicadas; não depender de notícias para nos guiar em tomadas de decisões importantes e decisivas no rumo da nossa vida e sociedade; aprovar programas de consciencialização das consequências das Fake News, impondo represálias e expressando desagrado face à sua disseminação.



Apresentação e discussão dos resultados:

Os dados que se seguem surgiram no seguimento de um estudo que visa aferir a suscetibilidade e credibilidade da amostra em estudo, bem como, a facilidade com que os Media conseguem ludibriar a população. Para tal, foram aplicados dois questionários online a uma amostra (selecionada e de conveniência) de 20 elementos - a turma do 11º CT3 da Escola Secundário Emídio Navarro, por isso, os resultados obtidos não podem ser generalizados nem aplicados a outros cenários.

No primeiro questionário, os alunos foram confrontados com uma Fake News, sem esta estar sinalizada como tal, e foram recolhidas informações acerca da sua perspetiva sobre a mesma. No segundo, a amostra em estudo foi informada em relação à falsidade da notícia veiculada no questionário anterior, verificou-se a (in)credulidade face à mesma, foram apuradas a suas reações e as consequências que consideravam adequadas para os disseminadores de Fake News.



1º questionário

Gráfico resultante da resposta à questão "Qual é a tua idade?" - primeiro questionário


Como podemos observar no gráfico, os participantes situam-se entre os quinze anos (5,3%) e os dezassete anos (15,8%). Assim, temos, ao todo, dezanove participantes em que a moda da idade se situa nos dezasseis anos (79%).

Esta faixa etária permite-nos antever a existência de um espiríto crítico menos desenvolvido e, ao mesmo tempo, uma maior fragilidade no que refere à identificação das Fake News, uma vez que, a experiência de vida é menor. Tal situação, no entanto, não é impeditiva da possibilidade de, em jovens mais atentos e conscienciosos acerca destas problemáticas, se denotar um pensamento crítico mais acertivo e direcionado para a triangulação das fontes de informação. Os resultados desta investigação vêm, portanto, comprovar esta informação, sendo que, apesar de existirem casos excecionais, a maioria dos participantes acaba por não conseguir identificar com facilidade as Fake News.



Gráfico resultante da resposta à questão "Qual é o teu género?" - primeiro questionário


No universo da amostra, 68,4% elementos são do género feminino e 31,6% do sexo masculino, observando-se assim uma predominância do género feminino.



Quando questionados acerca da (in)existência da aplicação STAYAWAYCovid no seu dispositivo móvel, as respostas dos dezanove alunos participantes dividiram-se. Tendo quatro alunos (21,1%) dito que sim, sendo que, quinze alunos (78,9%) disse que não. Podemos então inferir que a amostra entrevistada não tinha nem outrora tivera a aplicação em causa instalado nos seus dispositivos o que revela uma pespetiva ética e uma responsabilidade social bastante questionáveis.

Dezasseis alunos (correspondente a 84,2% da amostra do questionário) admitiram ter-se sentido enganados pela intensa divulgação feita à aplicação, tendo apenas três alunos (15,8% da amostra) alegado não se terem sentido enganados pela mesma. Concluo então, que a robusta maioria da turma acreditou na informação veiculada na notícia falsa.



Gráfico resultante da resposta à questão "O que a informação veiculada pela notícia te fez sentir?" - primeiro questionário


Como podemos observar no gráfico que se segue, a perspetiva dos participantes em relação ao que a informação veiculada pela notícia os fez sentir, variaram numa escala entre 1 - “Não me incomodou” (5,3%) e 5 - “Incomodou-me bastante” (15,8%). 5,3% dos participantes selecionaram o grau 2 e 21,1% o grau 4. Assim, podemos averiguar que a moda da escala é o grau 3, tendo-se verificado que (52,6%) dos alunos (isto é, dez elementos) optaram por esta opção. De modo geral, aferi que a maior parte dos alunos (cerca de 89,5%) sentiram-se moderada e fortemente incomodados pela informação que lhes foi transmitida pela notícia porque, provavelmente e como explicitado anteriormente, a sua experiência de vida não os preparou suficientemente bem para a confrontação com uma notícia falsa.



Após uma análise às respostas dos participantes face à questão “Comenta a informação fornecida pela notícia.” verifiquei que, das dezanove respostas dadas apenas uma delas demonstrou ceticismo face à informação veiculada no artigo fictício. Existiu ainda uma resposta que demonstrou dúvida em relação à veracidade do artigo patente no questionário. Os restantes dezassete participantes expressaram opiniões e escreveram comentários que demonstraram quão honesta e genuinamente preocupados estavam com a suposta invasão de privacidade por parte da aplicação, sentindo-se revoltados com a informação. Houve quem agradecesse pela disponibilização de tal importante informação. Em suma, concluí que a maioria da amostra em estudo demonstrou ingenuidade face às Fake News e vulnerabilidade face aos seus proliferadores. Penso que tal situação aconteceu porque a informação falsa citava uma organização fidedigna (Universidade de Ciências e Tecnologias) e porque esta lhes foi veiculada por alguém que conheciam, alguém de confiança e de quem não tinham razões para desconfiar – eu.

Ao serem inquiridos "Acreditou na notícia veiculada no formulário anterior?", a resposta dos alunos variou entre os que efetivamente acreditaram (70% - correspondente a catorze alunos) e os que não acreditaram (30% - correspondente a seis alunos). Concluí que a maioria dos alunos acredita facilmente, e sem proceder a nenhuma pesquisa adicional, em notícias que lhes são transmitidas. No entanto, é de reparar que alguns dos participantes não foram coerentes com o questionário anterior, em que haviam demonstrado crença na notícia e que agora se demonstraram céticos em relação à mesma.



2º questionário

Gráfico resultante da resposta à questão "Acreditou na notícia veiculada no formulário anterior?" - segundo questionário


Os alunos que admitiram a confiança na informação veiculada no artigo (cerca de 14 inquiridos) e ao depararem-se com o facto de a mesma ser fictícia demonstraram revolta; indignação; desapontamento; surpresa; sentiram-se traídos; crédulos e incomodados. Houve respostas que demonstraram alívio face à falsidade da notícia. Existiram quatro respostas que não responderam ao perguntado, afirmando que não acreditaram na notícia e houve até um aluno que mostrou-se, ainda assim, crente na ocorrência da invasão de privacidade pela aplicação STAYAWAYCovid.

Em reação à questão anterior, 95% dos alunos crê que os proliferadores de Fake News deviam ser punidos e apenas 5% (o que corresponde a apenas um elemento da turma) afirma que não. Em suma, creio que a amostra analisada revelou consenso em relação às medidas que deveriam ser tomadas. Na minha opinião, esta resposta foi dada no calor do momento e foi fortemente influenciada pelo facto de terem sido enganados. Creio também que a maioria defendeu a punição dos proliferadores de Fake News porque são confrontados diariamente com notícias sensacionalistas, em diversas plataformas mas principalmente nas Redes Sociais, e têm receio de serem vítimas das implacáveis Fake News. Por essa razão, revelam urgência na punição de todos aqueles que publicam e veiculam factos não verídicos.

Neste âmbito, os alunos que defenderam a punição de disseminadores de Fake News (dezanove) apresentam diversas razões para a sua resposta, sendo as mais comuns: os massivos danos colaterais que estas podem acarretar; o sentimento de vingança; discordância com os possíveis usos destas para prejudicar os outros; nefasta manipulação da população; perigo da tomada de decisões importantes na vida de um indivíduo influenciadas por informações incorretas; disseminação da desinformação, insegurança, crenças falsas e caos geral.

Também Immanuel Kant, filósofo prussiano, sustentou, no seu modelo ético, um princípio: o Imperativo Categórico. Segundo, este, devemos agir de modo a que tratemos a Humanidade, tanto na sua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio. Isto é, ao transpormos esta teoria para a esfera das Fake News, deduzimos que o ato de proliferação de notícias falsas é fortemente condenada por Kant, pois entra em conflito com os seus princípios éticos. Tenhamos como exemplo que se difundirmos Fake News com o intuito de obter proveito próprio, seja a nível pessoal, social ou político, estamos a desprezar as consequências que tal ação poderá ter no nosso público, a Humanidade (ou pelo menos, porção dela).

Além de que, regendo-nos pela teoria da justiça de Rawls, não é correto contribuir para a desinformação da sociedade. Justiça, segundo ele, assenta em princípios como a Universalidade e Imparcialidade, o que resulta na máxima de que todos devem ter acesso à mesma informação (verdadeira), sendo que esta deve ser distribuída de modo isento e imparcial sem olhar a classes ou etiquetas sociais.

O único aluno que afirma que estes disseminadores não devem ser punidos argumenta, conjecturando, que as Fake News são amiúde espalhadas por engano e sem o intento de provocar qualquer mal nos recetores das mesmas. De modo geral, os participantes revelam consciência dos usos deveras vis das notícias falsas e a forma como estas podem auxiliar na construção de uma sociedade fortemente lesada e fragilizada.


Inês Azenha Bernardo, nº 12, 11º CT3



Feedback: Precisa de resolver se coloca ou não em itálico, e com ou se maiúsculas, a palavra Fake News. A sua escolha depois deve ser replicada em todo o documento. Faltam imagens na fundamentação teórica. Quando é que limpa de vez, do seu dicionário a palavra "opinião"? Deveria ter explicado em que consiste a fake que vç inventou e qual a intenção deste exercício. Depois, é necessário fazer um comentário breve depois da análise de cada pergunta, de modo a perceber-se qual é a leitura que vç faz acerca dos resultados que vão sendo apresentados. Veja se consegue meter conceitos/temas filosóficos na análise que faz das respostas a cada questão (se não conseguir, eu ajudo-a). Como poderá ver, apaguei alguns gráficos uma vez que era redundante ter a imagem e a explicação da mesma, principalmente quando esta explicação traduzia bem o que a imagem referia. Não apague o feedback qualitativo, sf.f.



Feedback qualitativo:

Introdução: *****

QRT e resultados: *****(-) (aguarda melhoramentos)




As Fake News são, portanto, um exercício de poder exercido por todos aqueles que visam a divulgação de informações e notícias enganosas e ou pouco fidedignas. São um ato hostil e cada vez menos elitista, dado que, com o aparecer de novos meios de comunicação, qualquer um tem a possibilidade de aceder a plataformas (digitais) e facilmente ser ouvido. É uma faca de dois gumes, na medida em que pode ser positivo ao dar voz às pessoas para expressaram o que sentem e nocivo ao promover e amplificar aqueles com más intenções e que pretendem lucrar com a ignorância do resto. Os primeiros casos de Fake News remontam à Grécia Antiga e, desde então, foram uma constante na história de Portugal e do Mundo. Os conceitos de verdade e mentira surgem intimamente ligados à matéria abordada no trabalho e os seus verdadeiros significados nunca foram apurados, em virtude de serem inatingíveis para o mero mortal e a sua essência difere de pessoa para pessoas, sendo portanto noções altamente subjetivas. Por isso, o máximo e o mínimo que se pode pedir aos Media é a reportagem da realidade e da verdade dos factos. Concluí também que a despistagem de Fake News não é um processo de todo fácil, visto que, por vezes, as notícias abordam realidades com que não temos contacto.


Chego ao fim do ensaio satisfeita com a concretização da abordagem realizada aos meus objetivos iniciais. Creio que, explorei afincadamente as múltiplas ramificações do tema das Fake News, chafurdei nas suas mais nefastas intenções e, através da mobilização de exemplos, argumentei e demonstrei o poder dos Media na nossa sociedade e o porquê deste imponenentes órgãos de comunicação disseminarem Fake News. Apurei, não apenas teoricamente como também empiricamente, através da aplicação de dois questionários, as atrozes consequências das Fake News e aferi a forte capacidade de influência da opinião pública que os Media detêm. Ainda nos questionários, constatei que a amostra apresenta uma opinião quase consensual (95%) na concordância com a punição de proliferadores de Fake News, opinião com a qual, pessoalmente concordo. Após muita pesquisa e reflexão e conforme objetivado, elaborei um conjunto de medidas e de atitudes que nos podem auxiliar no combate às Fake News, armas perigosas dos Media.

Na minha ótica, uma das potencialidades deste ensaio é a sua inserção no contexto sociopolítico atual, abordando uma temática também ela deveras contemporânea e pertinente em tempos de pandemia.

Num momento de incerteza, de insegurança, de isenção de contacto físico com o mundo exterior, a população revela especial interesse por esta matéria visto que, todos os dias, é confrontada com uma saraivada de notícias e que urge em descobrir quais correspondem efetivamente à verdades dos factos e aquelas que são simplesmente mentiras.

Neste momento de aflição, as notícias são, indubitavelmente, as nossas muletas e os Media os nossos médicos, portanto, a compreensão do perigo das Fake News é necessária. Ainda neste sentido, o trabalho apresenta uma vertente mais virada para a sensibilização da população, procurando combater burlas, ignorância e desinformação. Ao estarem mais informados sobre a temática e ao lhes serem apresentadas algumas técnicas e alternativas que intendem enfraquecer o poder dos meios de comunicação e contrariar a crença acrítica nos Media, os cidadãos sentem-se mais seguros, mais conhecedores e mais perspicazes na destrinção do real e do não real.


O ensaio apresenta, contudo, algumas limitações atendendo ao facto de que a amostra a que foram aplicados os questionários ser reduzida e dada a suspeita de desonestidade por parte de elementos dessa mesma amostra. Esta suspeita surge na sequência da deteção de incongruências nas respostas dos participantes aos questionários. Tal situação, propicia a existência de resultados pouco fiáveis, podendo forjar as análises realizadas e, consequentemente, as conclusões daí retiradas.

Um outro obstáculo resulta de uma das suas vantagens, ser extremamente atual, o que implica que o tema se encontre eternamente incompleto, em constante mudança, existindo um acréscimo de informações e novos desenvolvimentos quase diários. É uma problemática tão extensa e com tantas ramificações que se torna inexequível abordar todas as suas vertentes, perspetivas e opiniões associadas.


Só pouco antes da decisão do tema e elaboração do presente ensaio, comecei a abrir os olhos para o poder e influência dos meios de comunicação na nossa sociedade e comecei, efetivamente, a preocupar-me com as Fake News. Afligia-me a possibilidade de poder estar a ser enganada, a possibilidade de, todos os dias ao ver as notícias, estar a consentir e a tomar como verdadeiras notícias imprecisas e, no pior dos casos, falsas. E se a minha noção do mundo estivesse distorcida?

Ao iniciar a redação do ensaio, pensava que estas minhas reflexões e o conhecimento que recentemente adquirira sobre as Fake News eram, a certos níveis, suficientes . Qual não foi a minha surpresa quando, aquando do processo de pesquisa para o mesmo, descobri que afinal só sabia o correspondente a uma agulha num palheiro. Tal situação não me desmotivou, pelo contrário, à medida que me instruía, ficava cada vez mais sedenta de conhecimento porque, além de ser um tema extremamente político, intrincado e complexo, tem um lado muito estratégico, lógico e, digo até, belicoso, que apela ao nosso interesse e estimula o nosso prazer em indagar e em construir suposições. Além de ter aprendido mais sobre a história das Fake News, compreendi também as suas consequências reais em pessoas reais e não apenas repercurssões puramente teóricas, espicaçando a minha vontade de encontrar métodos para as contornar. Por conseguinte, adquiri uma panóplia de conhecimentos sobre esta questão – que, certamente ainda não correspondem a todas as agulhas do palheiro - que se revelaram muito úteis desde então: a esmiuçar todas as notícias que oiço e até a posicionar-me criticamente sobre elas, talvez me tenha tornado mais cética mas também mais pronta para o mundo nu e cru. Aprendi sobre o cativante mas também ardiloso mundo das Fake News e sobre o poder que os Media detém sobre a nossa sociedade.

Espero, sinceramente, que as lições que retirei da redação do ensaio sejam úteis a quem o ler e talvez ligar uma luz a todos aqueles que por vezes se sentem às escuras...


“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário.” George Orwell



Inês Bernardo



 
 
 

2 Comments


Turma 11CT3
Turma 11CT3
Jun 09, 2021

Inês Bernardo: Texto completo, que incluiu ma investigação empírica estruturada metodologicamente através de um questionário. Resultados apresentados de forma completa. Formalização com lacunas uma vez que o ensaio inclui no seu corpo, o feedback do docente em relação às partes realizadas, aspeto que já deveria ter sido corrigido. A perspetiva crítica é pertinente e completa; As imagens são oportunas mas escassas. [Carlos Gaspar]

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Taliana07
Taliana07
Mar 24, 2021

Tema interessante e trabalho bem estruturado, revela domínio do conteúdo e as frases foram bem conseguidas.

Ótima escolha, visto que é um tema bastante atual e preocupante. Recorre com sucesso a exemplos para explicar o tema que aborda. O texto carece de imagens ilustrativas sobre o tema, fazendo com que o trabalho fique com demasiada informação. Aconselhamos que ponha imagens ilustrativas e que elas sejam interessantes para não tornar o trabalho complexo para os leitores e que desses mais a tua opinião sobre os resultados obtidos no questionário.

De um modo geral, o trabalho está bem fundamentado, o balanço é bastante positivo e esperamos ansiosos pelo desfecho do seu trabalho😁.

Taliana Nº21 e Vasco Nº24, 11ºCT3.

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