VAR: O fim ou um novo começo?
- Tiago Martins
- 20 de fev. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 3 de mai. de 2021
Introdução:
O recurso ao Árbitro de Vídeo é um tecnologia que já tinha vindo a ser utilizada ao longo dos anos em diversos desportos, como o futebol americano, o basquetebol, o voleibol e o ténis. Logo, é (in)compreensível a surpresa ao redor do mundo, quando em 2018 foi anunciada oficialmente pela FIFA a presença do Video Assistant Referee, ou VAR, no Mundial da Rússia de 2018, fazendo assim a sua primeira aparição no "desporto rei" e apresentando indícios para início de uma nova era na história do futebol.
Prometendo menos erros e mais justiça, a utilização do VAR tornou-se num requisito para a prática do "Beautiful Game", sendo assim instaurado em diversas competições a nível mundial, continental e, em alguns países, até nacional. Hoje, quase três anos depois, somos bombardeados, diariamente, por artigos e notícias acerca de como a sua implementação roubou a magia do desporto mais aclamado mundialmente.
Com toda esta polémica surgiram grupos de fãs, especialistas e até jogadores que defendem a abolição do VAR. Um exemplo foi quando no passado dia 11 de Janeiro de 2020, num jogo a contar para a Premier League (1ª Divisão do Futebol Inglês), entre Arsenal e Crystal Palace, os adeptos de ambas as equipas se uniram em protesto conta o sistema, erguendo tarjas que liam "A matar a paixão, a matar a atmosfera, a matar o jogo, acabem com o VAR agora!" e através de cânticos ofensivos.
Ao ser um dos temas mais abordados, hoje em dia, no mundo do futebol, fica no ar apenas uma questão: Será que o VAR representa o fim ou um novo começo para o futebol?
Ao longo deste ensaio tenho como objetivo dar a ver o meu ponto de vista, de que o VAR não estragou o jogo, mas sim, veio trazer uma maior justiça ao mesmo.

"Levantamento de tarjas ofensivas por parte dos adeptos do Crystal Palace"
Quadro de referência teórico:
Ao longo dos anos, o desporto tem vindo a ficar cada vez mais presente nas nossas vidas, desde que surgiu na civilização grega, onde todas as cidades se reuniam numa incessante disputa, em homenagem a Zeus (evento hoje chamado de Jogos Olímpicos), até aos dias de hoje, onde milhões de pessoas fazem do desporto a sua vida.
Hoje em dia, desportos podem ser praticados competitivamente, com dinheiro em jogo, participando assim ativamente na economia de diversos países, ou de forma lúdica, por puro entretenimento.
O futebol, considerado por muitos o maior desporto à face da terra, surgiu, contrariamente ao que muitos pensam, na China há cerca de 2000 anos atrás, através de uma variante chamada de cuju, ou kickball.

Quando surgiu, o seu objetivo era apenas manter a bola no ar pelo máximo de tempo possível, no entanto, com o passar do tempo este foi evoluindo, até que chegou ao que chamamos hoje de futebol.
No entanto, foi em Inglaterra, onde em 1843, na Universidade de Cambridge, onde se tentou pela primeira vez, estabelecer regras definitivas para o jogo, que ficariam conhecidas como "Cambridge Rules", onde duas equipas de 11 jogadores se defrontariam com o objetivo de levar a bola até ao interior da baliza adversária.
"O Imperador de Song a jogar cuju"
Estes alunos virariam a ficar conhecidos como os pioneiros do futebol, ao serem responsáveis pela criação dos primeiros clubes de futebol da história, após a sua graduação.
Em 1863, com o aparecimento da FA (Football Association), estas regras foram pela primeira vez, imprimidas em papel.
Como em todos os outros desportos, ao longo dos anos, as suas regras foram sofrendo alterações, sendo uma das mais marcantes, a proibição da utilização das mãos por parte de todos os jogadores, exceto o guarda-redes, em 1870.
Por fim, em 1871, 15 clubes, membros da FA, aceitaram convites para participação num torneio e para o pagamento de um troféu que seria atribuído ao vencedor do mesmo, marcando assim o início do futebol.
A criação do VAR é um assunto muito polémico, pelo facto de estarem sempre aparecer pessoas que afirmam ser o seu criador, no entanto aquele que é assumido como criador e dono da sua patente é Antonio Ibañez de Alba, um notável engenheiro informático e cientista espanhol responsável por diversas investigações e conhecido pelos seus trabalhos na NASA.
Apesar de ter surgido, oficialmente, em 1995, este permaneceu escondido, e apenas foi posto em prática em 2016, num jogo amigável entre PSV e FC Eindhoven, da Holanda. Finalmente, em 2018 a sua presença foi, oficialmente, confirmada no Mundial da Rússia, seguindo o exemplo de diversos outros desportos, como o futebol americano, o basquetebol, o voleibol e o ténis, que já apresentavam tecnologias semelhantes em vigor.

"Primeira utilização do VAR na história, no jogo entre França e Austrália, a contar para o Mundial de 2018"
Para julgarmos o VAR quanto à sua justiça, necessitamos primeiro de nos inteirar acerca das suas regras e circunstâncias em que este pode ser utilizado:
Golos:
No caso dos golos, o VAR pode apenas atuar, de forma a aferir caso existe razão para o anulamento do mesmo, no entanto, não pode interferir caso o árbitro já tenha interrompido a jogada.
Penáltis:
Neste caso, o assistente de vídeo tem o dever de analisar a jogada de modo a determinar se existe caso para penálti na jogada, caso este tenha sido assinalado ou não pelo juiz principal. Em caso de dúvida existe a possibilidade de o árbitro principal se deslocar para a estação de visionamento no exterior do campo, de forma analisar o ocorrido em pessoa.
Expulsões:
No que diz respeito às expulsões, o VAR pode atuar, só e apenas só, se entender que a falta é merecedora de cartão vermelho direto, não tendo qualquer controlo sobre uma falta normal, por exemplo, merecedora de cartão amarelo.
Muitos partilham da opinião que o VAR, chegou para estragar o futebol com as constantes interrupções e grande diminuição da dinâmica do jogo, como referido no último dia 31 de janeiro deste ano, numa controversa flash-interview, pela estrela egípcia do Liverpool, Mohamed Salah, que no seguimento da vitória frente ao West Ham por 3-1, disse "Eu não gosto do VAR, mas é a minha opinião. Acho que mata o futebol e a emoção do jogo".
Outro argumento frequentemente utilizado pelos críticos é o facto de este analisar cada lance ao milímetro, o que para muitos fãs é desencorajador. É de realçar que este argumento já foi corrigido na Holanda (Eredivisie), onde começaram a ser usadas linhas de 5cm para determinar as posições dos jogadores em plano ofensivo e defensivo, caso estas linhas se toquem o VAR não vai interferir com a jogada.
Apesar de, como tudo, a utilização do VAR acarretar alguns imprevistos, todos estes podem ser resolvidos: Implementação de intervenção a pedido da equipa técnica de uma das equipas, revisão do segundo cartão amarelo, participação no início de uma jogada ( quando existiu um erro e esta deu em golo), entre outros.
A meu ver, apesar de todos estes argumentos estarem corretos e serem irrefutáveis, todos estes inconvenientes têm como objetivo um bem maior: Um jogo mais justo.
A justiça no futebol é algo que vinha a ser criticado, há já muitos anos, e o VAR chegou apenas com o propósito de contribuir para uma melhora da mesma.
Mas o que será que é realmente a justiça?
Existem vários pontos de vista divergentes no que diz respeito à justiça, no entanto, a meu ver, e baseando-me na teoria de Rawls (apesar de não concordar totalmente com o seu trabalho), uma sociedade justa seria uma situação onde estariam presentes os princípios da posição original e do véu da ignorância.
Nesta sociedade todos deveriam ser julgados de forma igual, existindo imparcialidade, ou seja, não se teriam conhecimentos acerca do estatuto social de cada um, dando assim prioridade, apenas, e só à justiça.
Aplicando então estes princípios no futebol, obteríamos uma situação na qual, quando deparadas com a mesma situação, duas equipas com capacidade financeira e estatutos diferentes sofreriam a mesma consequência.
Podemos observar a contribuição do VAR para esta "justiça" através dos dados disponibilizados pelo Presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Fontelas Gomes, no último dia 18 de dezembro de 2020, referindo que ao longo do ano de 2020, 92% das intervenções do VAR foram corretas e repuseram a verdade desportiva, e proferindo as seguintes palavras "O erro faz parte e continuará a fazer parte. O VAR vai diminuí-lo."
Assim, podemos concluir que, desde 2016, quando o VAR foi implementado, houve um grande decréscimo no número de erros totalizados ao longo de uma partida.
Apesar de ainda haver muito espaço para melhorar, através da introdução de regras mais estritas, onde seja ampliado o critério de atuação do mesmo, uma simples ação, como a introdução do VAR, representa um grande passo, em prol de uma sociedade mais justa.
Considerações Finais:
Ao longo deste ensaio, procurámos, incessantemente, obter uma resposta concreta à pergunta "Será que o VAR representa o fim ou um novo começo para o futebol?", através da análise das suas regras, de dados associados à sua utilização e do próprio conceito de justiça.
A meu ver, chegámos, com sucesso, a uma resposta para a pergunta acima citada, apesar de continuar aberta a diversas interpretações, apresentando os pontos a favor do VAR.
Espero que este trabalho contribua para o alargamento dos pontos de vista e mudança de opinião de algumas pessoas, que se focam, apenas, nos pontos negativos, deixando de lado os benefícios que este mecanismo proporciona ao desporto, apesar de este ser um tema que depende muito da personalidade e posição pessoal de cada pessoa, podendo estas dar prioridade a outros aspetos.
No decorrer do desenvolvimento deste trabalho, também eu, saí beneficiado, sendo apresentado a novos dados e diferentes perspetivas, que me ajudaram a compreender melhor, tanto a minha ótica, como a abordada por outros indivíduos.
Por fim, gostaria de terminar com uma frase da autoria do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard que, a meu ver sumariza, perfeitamente, os temas abordados ao longo deste ensaio:
"A vida não é um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser experimentada."
Søren Kierkegaard
Considerações finais: ***
Tiago Martins: Texto claro e objetivo; com erros de formatação do texto, ortográficos e frásicos ocasionais; imagens com legenda e adequadas ao tema, mas sem numeração; O enquadramento filosófico do tema é muito elementar deveria ser mais aprofundado. A justiça/injustiça é um fenómeno demasiado complexo para ser trabalhado de modo superficial. A tese do ensaio está confundida com um objetivo. [Carlos GAspar]
Olá Tiago! Gostei do tema abordado, apesar de ser um debatido no mundo do futebol. Partilho da mesma opinião sobre o VAR, " de que o VAR não estragou o jogo, mas sim, veio trazer uma maior justiça ao mesmo". De fato, um trabalho bem estruturado e explicar como o VAR atua na situação de penalidade maxíma foi interessante, pois eu tenho uma certa duvida sobre o contexto. Dissertar sobre justiça no futebol é muito complicado, há muitos fatores que determinam o resultado e um deles é a simples sorte e a uma forma de deixar o futebol mais justo é o VAR.
Continue a melhorar teu trablaho que tem um grande potencial!
Eduardo Guatelli Cunha